sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Se eu subir, o que verei?


Há que se constatar, se parar para analisar profundamente a riqueza dos sentidos contidos no simples ato de subir em busca do desconhecido, o mágico e sedutor desconhecido.
É mais que um mergulho. E de certa forma você se lança, embora para cima, na mais perigosa das aventuras. O ambiente é desproporcional, e sua estadia nele implica clima, tempo, a pressão que exerce sob os pulmões. É insólito, mas mesmo assim , o seu espírito aventureiro anseia por isso. Seria apenas mero desejo de aventura? Ou não, uma vontade intrínseca de contestar tudo a sua volta? De romper com as idéias que prendem a tua impetuosidade disfarçada de requinte, a roupagem transfigurada de casulo que já não te cabe mais?De rasgar o peito dotado de singularidades e mostrar, numa luta travada as sensações oriundas de um momento só seu, tão perceptivelmente sensorial?
Tudo tem a ver com a nossa preparação. Há uma necessidade latente de primeiro se proteger, de ter a certeza da segurança. Em termos de técnica, exige-se uma preparação total. Mas quem é tão preparado assim na escalada da vida, que não cometa o deslize de esquecer um equipamento ou outro?
Para tornar-se ainda mais paradoxal, vc amarra a uma corda a vontade de liberdade, e tem que aguentar bravamente o vendaval, sem se curvar ao frio que gela as idéias provenientes de um desejo pleno de voar, sem asas, sem deltas alfas ou gamas, apenas com a curiosidade de ver, lá de cima, a nossa paisagem particular, um santuário das capacidades que outrora nos parecia impossível alcançar. Mas há uma força que nos impulsiona, que rompe com a nossa incongruência, com nossas tentativas desesperadas de se enquadrar na sociedade vigente, que quer nos colocar no campo da experiência, e colocar ao alcance da nossa consciência as percepções negligenciadas do nosso "eu". E a cada passo que damos,ignorando a pressão atmosférica, sentimos, como se nossas sensações fossem capazes de nos colocar cara a cara com a verdade dos fatos, aquilo que o medo nos impedia de sentir. Realmente, se eu pensar em mim, e todas as minhas limitações, terei medo. Mas se eu pensar em Deus e toda a sua infalibilidade, o medo desaparecerá do meu espírito, e serei capaz de conquistar uma amplitude espiritual e de alma tamanha, que não caberei mais nas minhas medidas reais, terei que entrar na dimensão do sobrenatural e contemplar do alto a ampla gama de opções de uma vida completa, policênica, multiforme, e completamente independente de circunstancias hostis.
Talvez o alpinismo seja de fato uma atividade humana desenvolvida num ambiente totalmente hostil e até prejudicia, onde o homem atinge os limites de suas capacidades normais, mas em compensação, é uma atividade que proporciona o privilégio de contactar com um meio de proporções magníficas e com belezas inimagináveis. E também assim é a escalada da vida. Esta nos pôe em contato com nossas potencialidades, com a capacidade de superação, com aquilo que nem sabíamos que poderíamos vir a ser e/ou vivenciar. Coloca em evidência a arte de viver! E então, lá de cima você poderá optar, entre se manter estático, entregue ao comodismo, ou abrir os braços e em um puro ato de coragem, se lançar numa viagem sem volta, rumo a uma nova história.
Então, você está pronto pra se lançar nessa aventura e nunca mais voltar a ser o mesmo?Eu escolho saltar. Você vem comigo?

2 comentários:

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  2. Texto profundo... A vida exige que façamos 2 escolhas, Sim ou Não. Há quem fique num meio termo, mas a vida não tem graça pra essas pessoas. Também não podemos ficar optando pelo comodismo e autoproteção, porque isso nos consome. Eu escolho saltar contigo!

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