quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A menina dos olhos de lupa em: Acontecências.


A menina dos olhos de lupa acordou num desses dias de primavera, atenta para a essência da vida, das flores, do dia, das cores, tudo ao seu tempo.

E atenta que estava ao momento ela ouve algo, um som não homologado. Era estranho, era como se alguém tivesse encontrado as suas letras
e agora estivesse cantando todas em alto e bom som, cantando seus sentimentos com outras palavras, milimetricamente ensaiadas.

Ela sorriu um prazer delicado e pungente, correu para a varanda em busca da fonte sonora: na rua, um menino sentado na calçada tocava violão e olhava para o céu, abismado com as cores celestes ao entardecer.

A menina respirou sua última esperança, ajoelhou-se, olhou o céu e chorou.

O tempo se passou, ao som do tic-tac viciado do relógio que se apropria de tempos alheios, e então, num cenário modificado, ela acordou.

De súbito, novamente, ela ergue-se do sono, das suas viagens oníricas. Estava devendo uma visita a janela das acontecências, seu costumeiro lugar de escape para dentro de outros universos. Corre para lá, o que ela avista? Algo que seus olhos não conseguem acreditar. De mãos vazias, envolto pela leveza do silêncio e das flores primaverísticas espalhadas pelo chão, lá estava ele. Tinha transformado toda sua docilidade em um olhar, rápido, porém certeiro como flecha inflamada de um flecheiro em direção a presa.

Com as mãos apertando as bases da janela, como quem quer pular para junto da sua descoberta, ela pergunta. Porque olhas tão rapidamente? Talvez saibas que seus olhos não mente, pensava ela, com um meio riso nos lábios, formando parênteses.

Ele, tímido, trepidante, branco como a branca blusa que veste, agora se deixa avermelhar, como se as rosas que jaziam no chão ao seu lado tivessem cedido o seu rubor, para que ele pudesse mascarar as emoções. Que rosas tão solidárias (ou ordinárias, dependendo de que ponto de vista da história você apegou seu coração). Ele nada dizia, enquanto dizia tanto. Apenas olhava.

A menina dos olhos de lupa olha espantada, e num ato de pura sutileza, fecha a janela. Mas algo transcendia e sugava sua alma-menina em fulgores relutantes, e ela, simplesmente se deixava levar. Ela fecha os olhos, negros olhos, espelho convexo de almas alheias, prepara-se para mais uma de suas empreitadas. A sua respiração ofega em contraste com as batidas do seu coração e ela pensa: que menino ousado! O menino que cantou minhas dores com sua voz, e contou minha história em suas rimas sem métricas, agora embaralha minhas notas musicais harmoniosas, deixando meu coração descompassado. O que fará ele após disso? Pergunta algo para o qual já tem a resposta previamente digitada em sua mente sem lembranças recentes. Ela sentia a janela com suas costas. Os olhos abrem, mas parecem resistir em reviver. Abrem e fecham diversas vezes num único instante.

Mas, não há escolha: é vida!A menina percebe-se estranha, algo acontecera. Ela, sempre tão espontânea quanto seus cabelos postos ao vento, se percebe tímida! Que brio, alguém a intimidou. Troféu para ele, pensa ela!

Ela que tantas vezes teceu caminhos de migalhas, disfarçada de códigos e frases desconexas, agora se apruma, ergue os braços para o alto, seus dedos se entrelaçam, e espreguiçando ela sai, atrás do moço, dono do olhar mais tateável que ela já viu.

Ela sabe que pode presenteá-lo com algo de valor semelhante as mais preciosas jóias, e num chão ladeado por elas, ela sai, arrastando os pés pela areia, Grão a grão. Vagando em ondulações contínuas. Os seus rastros convidativos se assemelham a cordas, se amarram àquele rapaz que nada diz, apenas segue, impressionado por si mesmo, abandonando as rusgas de um coração tão duro quanto pedra. Sua expressão imprecisa deixa clara a sua inconstância de sentidos. E isso, como encanta a menina do olhos de lupa, que vê além dos muros intransponíveis de sua alma. Agora simplesmente tudo se faz estrada, e eles apenas seguem.Caminham a ermo para a floresta. Sentam um de costas para o outro, e põem se a tecer histórias não datadas em suas mentes ávidas por descobertas e aventuras. Constroem um inventário com as pedras, e com as flores molduram sonhos, emoções e suas loucas confissões.

Ela o ensina a superar a tempestade que fustiga o elo frágil de suas correntes, ela é sua fortaleza agora. A ilha para onde ele olhava em meio ao caos reviravolto, quando as ondas, com sua boca gigante, ameaçava devorá-lo. Ela é a suave queda de pára-quedas com chuva mansa, a molhar sua face, lavando suavemente as marcas do cansaço aparente, de forma contínua, resvalando enquanto o vento acalenta as idéias. Ela é a sensação boa de borboletas voando no estômago, de um lado pro outro, suspensas em passos de dança. Ela é a própria dança a balançar seu corpo. E ele é o pouso que ele faz em sí mesmo. A menina dos olhos de lupa não se demora nas palavras. O timbre da voz que ela não pode mais ouvir. Deixou perdido em seus ouvidos, numa dessas noites em que as estrelas penduradas no varal voaram e se dispuseram em seu olhar, todas ao mesmo tempo. Constelações se alternando em mensagens ininterpretáveis. Tornado-se enormes espetáculos à menina que afinal, tem olhos de lupa, e pode agigantar a simplicidade dos atos. Derrepente, concentrada no olhar ela pensa, que nem mesmo as tardes de contínuas horas de conversas se comparariam, aos textos e pretextos proferidos.

Ela se confessa cativa. Ele rí, gabando-se da sua situação liberta. Ela se ergue num subto de indignação e o desafia: então, baila comigo? o teu "eu livre" e o meu "eu cativo"?Quem sabe meu coração não pegue o seu, com as mesmas correntes que você ousou prender-me? E derrepente ele deixou de ser metade, como se a sonoridade do tilintar dos passos dela envoltos naquela perfeita dança, chamasse seus sentimentos mais secretos para fora da toca. Alí estava ele, em plena sensação de liberdade. E a dor dos sentimentos rememorados e repletos de mágoa, então, onde estavam? Teriam os ventos do oeste os carregado com ele lá para as margens de suas insanidades? Não se sabe. Sabe-se apenas que Ela, a menina dos olhos de lupa, levou embora seus restos de correntes que o mar deixou. E enquanto se despediam, ela em silêncio, sabia, pois que todo silêncio do mundo não seria suficiente para acalmar essa inquietude, deixava apenas a suntuosa despedida bradar. Ele a olha mais uma vez, dessa vez, demoradamente, se aproxima, porém ela põe a a mão nos seus lábios e diz decididamente:

_ Não diga nada, não faça nada, apenas guarde meu timbre em seus ouvidos.

Continua depois

Por: Narriman B.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pare, olhe, respire-se!



Pare, simplesmente pare! Respire o ambiente a sua volta, e agora vá, devagarinho se notando em sua completude. Pare agora, não tenha tanta pressa, a pressa desanda o elemento surpresa, conquistada em cada empreitada, a caminho da gloriosa descoberta. Desça até as suas mãos. Sinta-as! Sim, constate o óbvio, você tem mãos. Não importa tanto o que ainda falta conquistar, não importa o que ainda terás, o simples fato de tê-las já te torna capaz. Tome consciência do pleno poder que tem a simples junção dessas mãos quando entra em contexto afinado com o clamor que sobe dos teus lábios como fragrância agradável às narinas de Deus. Mãos envoltas no ato de abraçar, de acariciar o coração, de levantar o caido, sarar as feridas do aflito. Perceba também as marcas, que mostram quão forte fostes, cada vez que te lançastes em busca, na luta da completude nunca alcançada, veja o quanto tais marcas lembra caminhos, paisagens por onde passasses, perfumes que exalasses, mãos que já tocastes. Perceba o quanto a felicidade está no simples traçar de caminhos, nas descobertas, nas vivências, que ela enfeita a trajetória, e não é o ponto final onde se deseja chegar. É infinitude, e está em cada traçar. Mas e agora, o que tuas mãos desejam pegar?
Aproveita o caminhar, e olha teus pés. Que bela proposta de continuidade eles possuem. Teus pés que já chutaram bolas ao gol, ou à tiros de meta. Pés que te levam as conquistas. Das vezes que correstes para os braços do Pai em sentido de retorno, entrega de filho que é, ora pródigo, ora prodígio! Nota a poeira que enfeita as lembranças do campo onde correstes, sentindo o chão resvalar em teus pés, enquanto o vento emaranhava os cabelos, plantando um modesto sorriso em teus lábios. Veja que verdadeira sinfonia. Onde deixarás tuas próximas pisadas?
Sim, nesse momento concentre-se em seus ouvidos, no balbuciar das simples palavras que ouves, num ruido, numa melodia suave, ouça, não apenas escute! Ouvido que foi tantas vezes receptáculo da sublime voz. Note os significantes, timbres marcantes, lembre a gargalhada embalando a piada. Lembre do gemido que acalenta o choro, baixinho, mas o suficiente para que o coração escute, e desperte os sentimentos. Seus ouvidos estarão atentos para qual momento?
O coração, leve palpitar ou aceleração. Pulsar que grita vida e deságua energia, propulsor dos sonhos, da força. Do respirar. Doutor do ato de amar. Centro da fé que contagia o corpo inteiro. Entrada e saída da vida. Que sentimentos desejas alimentar, ou nele plantar?
Ele te guará até o olhar, perfeito tradutor de tudo o que há por dentro. Criança inveterada, não sabe mentir. Conta todos os teus segredos num só pestanejar. Grito que não se pode calar. revela, pede, chora, ri, se decepciona, se encanta. Fotografa momentos a todo tempo. Tenta a quem se atenta. Voltados para frente, nos mantém alheios a nós mesmos. Mas nos mantém conectados com o mundo, com a natureza e formam a plena certeza das manifestações visíveis de Deus. Como não falar das maravilhas que vemos? E para onde dirigir o olhar?
Boca! Sim, essa que profere, profetiza! Que leva para fora o mundo de dentro, que revela as descobertas, das mãos, dos pés, dos ouvidos, do coração e dos olhos. Boca do degustar das belas palavras, e das belas canções. Do sussurrar responsável pelo arrepio, do assovio que nos faz passarinhos, passageiros, pequenininhos. Boca dos murmúrios noturnos, das mordaças invisíveis que se rompe num grito, ao romper da manhã, num sorriso de certeza que o que é belo virá, e não tardará. Do sorriso de esperteza! Do mordiscar do desejo do beijo negado a si mesmo. Do grito de medo. Tua boca e seus segredos. Instrumento de "IDE" de pregação, da confissão dos cristãos. Da profissão de fé. Que palavras pronunciar, então?
Percebes nesse passeio a harmonia? Viagem tantas vezes datadas para depois. Bilhete esquecido na gaveta do procrastinar, ou perdida no emaranhado de obrigações. No cientificismo. Nas certezas e vãs emoções. Na busca do 'ter' que banaliza as relações. E na entrave das decisões, as pessoas esquecem de ser, de sentir-se, de se perceber. Afastam pessoas, sufocam relacionamentos. Esquecem que o único método eficaz de conquista é o "ser". Então apenas seja, cultive a si mesmo, recicle e resignifique tudo o que és. Notes de onde vens, e para onde vais. Perceba a doçura que é viver.
E agora, que humano irás ser?!
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades." Camões.

.Narriman Buriti Basilio.

sábado, 20 de novembro de 2010

Tô aí, tô nem aí

Tô nem aí pro futuro, tô nem aí para queixas datadas, tô nem aí pro telefone mudo, pros surdos, pro preço do combustível, tô nem aí se vai chover amanhã, se o presidente vai viajar, se vai voltar, tô nem aí.

Pra discussão sobre maioridade penal, violência e barbárie, tô aí. Pro fim desta impunidade que incrementa a bestialização das nossas vidas, tô muito aí.

Tô nem aí pros especuladores da vida alheia, pro Schwarzenegger, pros índices de audiência, tô nem aí se fui convidada ou preterida, quem é a primeira da lista, a segunda, a última...

Pros sentimentos das pessoas, tô aí. Para seus desejos e dúvidas, para seus medos e ousadias, tô aí. Para tudo aquilo que tem consistência, para tudo aquilo que nos comove, para o leve e o denso, para a alegria genuína e para o luto, tô aí, sim.

Tô nem aí para quantas calorias tem um bife, tô nem aí pra corrida espacial, pro carro do ano, pra musa do próximo verão, pro gol mais bonito do domingo, pra manchete da capa de amanhã.

Para a grosseria e a falta de delicadeza que corrói as relações, tô aí. Para a brutalidade das pessoas, pro egoísmo, pra falta de educação e civilidade, para todos que possuem uma nuvem preta acima da cabeça e a carregam pra onde quer que vão,tô aí e me dói profundamente.

Tô aí pra alguns, pros meus. Tô aí e estou aqui. Estou atenta. Estou dentro. Estou me vendo. Estou tentando. Estou querendo. Estou a postos só para o mínimo, o máximo. Para o que importa mesmo. Para o mistério. A verdade. O caos. O céu. Para Deus e sua palavra. Para a pregação do evangelho aos que estão cativos e sedentos daquilo que o dinheiro não pode comprar. Pros que estão perdendo sua alma. Tô aí e sei que Deus está comigo nessa.

No mais, tô nem aí.

Ascendendo junto a verdadeira face...

'Tudo aquilo que eu esquecia ou negava, soube vagamente em plena queda, era o que eu mais era...


O lance é que quando vc está emergindo, após uma queda, é que vc percebe que o que negavas ser/pensar/sentir, sempre foi mais parte de vc do que tudo o que parecia ser tão verdadeiro, porém era superficial... O que vc acreditava esquecer, quando se assume que não se esqueceu, permite vc sair do chão onde estava, se reerguer e assim, ascender... mesmo porque sempre negamos aquilo que faz mais parte do nosso maior desejo, mediante as defesas e repressões.... temos medo da tristeza, e também de nossa maior felicidade...que paradoxo magnífico!
tantas mentiras contadas pra nós mesmos... pra que? Se no fundo, o que somos, mesmo que esteja socado pra baixo do tapete, é o que vai produzir nossas emoções mais verdadeiras e fortes...?
[N.B.B]

Saudades, infindas saudades!

Saudade de queimar de amor, e continuar vivendo, com a vívida sensação de amar de verdade...
Saudades da ansiosidade provocada por faltar uma hora pro encontro mágico, da queimação gástrica, das palpitações de um coração que quer sair do peito ao encontro do outro. De vê-lo depois, tranquilizar, pela tranquilidade de outro coração, ao se aproximarem num abraço, perigoso abraço. Saudades da transformação de horas em dias e de e de dias em segundos quando se está perto. De olhar pras coisas e ver além delas, de achar na tempestade motivo pra sorrir, se aquecer... saudades até do medo de perder...de esquecer de dormir à noite porque já se sonha demais quando acordado...
Saudades de guardar o que realmente se quer dizer...

"— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura.

Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor.

Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.
)


Ah. Porque eu sou tímida."



Por N.B.B

Meu "Eu" fora de mim...


Então tu vens coberto de particularidades. Lanças sobre mim um manto, com tuas manias, conceitos, sonhos e detalhes .Eu me torno cativo de ti, e tú de mim. Parte fragmentada da minha personalidade, meu "eu" fora de mim.
Amo vocês, cada um a sua forma, cada ponte diferente que se forma, mas amo!

Lutarei...

Eu digo e repito, sem desdizer nenhum momento,
Que enquanto houver sentimento eu vou lutar, não contra
Não à favor, mas lutarei pelo simples prazer de minhas mãos na batalha cobertas com a plena certeza de está lutando pela mais bela das causas!
Lutarei mesmo que o medo venha me apavorar com sua cara feia, e a baixa estima tente me ludibriar com seu papo manjado de que não sou capaz. Lutarei até não poder lutar mais, e farei dessa luta um emblema, de coragem plena, de certeza amena. Cuja imagem estampada traduza a enigmática magia, música ou melodia, contidos nesse olhar que contagia.
E darei minha real face à tapa, sempre que alguém em uma atitude ousada, me indagar dos reais motivos, que me fazem entrar em luta travada, encarando os paliativos, que nunca elimina as causas, mas leva ao embate decisivo.
Eu tomo minha postura de valente, já me familiarizei com desmoronamentos... Sigo em frente lembrando da constante renovação que tenho em minha mente. Tenho meu escudo eficaz, Desistir? Jamais!


N.B.B

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A linha tênue que divide a vida...


A tênue linha que insiste em existir. Que faz o individualismo balançar, arriscar cair no altruísmo, que vive lado a lado com a empatia, decorando os canteiros da harmonia. Basta um simples trepidar, e a corda bamba do amor próprio te leva ao orgulho, a exacerbação, e o "a quem honra, honra" te leva a babação. E quantas vezes, amor e ódio de mãos dadas estão?

Uma eterna contradição, entre estranhamento e magia, mais um passo e se rompe a melodia, transforma-se em caos o que antes era harmonia.

Olho pro lado de lá, vejo a religião às bordas da comunhão com Deus, uma linha as vezes aparentemente perpendicular, que se cruza em algum lugar. Ledo engano! Paralelas estão, lado a lado, formando um caminho apertado. Mas nunca se encontrarão.

E liberdade x prisão? Tão fácil é confundir. São várias linhas que forma uma cadeia. Coração em detenção máxima, mas que incendeia. A liberdade do ser humano percorre a veia, o coloca numa batalha constante em busca do que ele anseia.

Olhar-se no espelho da vida, se enxergar. Encontrar dentro de sí a solução. Tentar entender seu padrão, é de grande resolução. Dúvidas dissolvidas, conflitos solucionados. Mas há o outro lado. Você pode deixar o espelho parado e levantar quem está prostrado? Ou será que o narcisismo te afoga no mar da ilusão? E esqueces a importância de ser irmão? Revive o tão esquecido ato de dar a mão!

Mas há coisas que não se pode separar em linhas e demarcações nítidas. O amor, tendo a amizade como ponto de partida, duas nuances em uma vida. Quem poderá separar? Quando um do outro se afasta, apenas cinzas sobrará.

Esta é a vida, então, uma constante trepidação, linhas imaginárias, demarcação. Decisões constantes que nos dividem ao meio. Pensamentos e devaneios. Razão e emoção. Linhas sem conexão.

Saberás tú viver em equilíbrio então?


Narriman B.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Eterna icógnita no abismo do coração

A voraz sagacidade das coisas espontaneamente vividas, escrevo eu...
existir é pouco perto do que eu sinto quando o faço...
Mas me diz, o que me levou a sentir, o que me levou a essa fuga perigosa da realidade, que flameja o fogo mais intenso?!
É como o içar das velas, que movidas em brisa, vêem nascer a tempestade, ocasionada por um simples sopro...
De vergonha, me calo, de alegria o sorriso escorrega quase que sem querer boca a fora, daí
me torno súdita do meu coração, mesmo que depois reprima tudo novamente, naquela sensação de que meu amor é um pássaro solitário, em busca de liberdade ha tanto perdida, e tão difícil de ser reencontrada.
Nesse impasse, detenho-me aos códigos, aqueles que a gente só atenta quando ama, quando a atenção é dobrada e nem os mínimos detalhes passam desapercebidos.
Essa alegria que pra mim é som suave, esse sorriso largo que entra em compasso nesse arranjo musical de notas bem humoradas[...]
Quem parará para entender as coisas que eu escrevo?

Tampouco as que sinto,tampouco as que imagino?
Gritar num alto falante as palavras que teimo em guardar só pra mim,seria de valia pra tí? Como lua cheia transbordo eu, já dando importância mínima pras palavras que outrora proferiram...
O mais profundo dos poços poderiam abafar o grito do meu coração? Duvido em extremo...!
Que seja insanidade pros que se dizem sábios...
Que seja besteira pros que se acham importantes.
Que seja à toa pros fúteis...
E improvável pro incrédulos...
Para mim será sempre uma incógnita prestes a ser descoberta.

Narriman B.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Num homem real se esconde uma criança,que deseja brincar...


Certo dia, passando costumeiramente por uma das ruas do meu bairro, num estado de contemplação plena, onde a retina dos olhos se abre para expectação de tudo o que acontece ao redor, que muitos não podem perceber, por estarem atentos aos seus próprios problemas e pertubações do dia a dia, me deparei com uma cena que me encantou. Não, não foi algo sobrenatural, que me desse a sensação de estar no paraíso, coberta com um céu de brigadeiro e criaturas exóticas por todos os lados. Na verdade é uma cena que enojaria aqueles ditos como abastados. Avistei uma criança, envolta com toda sua graciosa simplicidade, brincando na lama. A expressão que decorava a face daquela criança ecoa na minha mente até agora: sorriso pleno, tão grande que não cabendo no rosto, escorregava para o corpo todo numa verdadeira celebração daquilo que chamo de genuína felicidade. Nesse momento, me pus a pensar, não sem pesar, no quanto vamos nos corrompendo com o passar do tempo, enquanto nos tornamos inevitavelmente adultos.
Que bicho é esse tal de Adulto? Uma criança que esqueceu como emoldurar um sorriso no rosto e de ser congruente com suas próprias emoções? Que não tem perdão para dar a ninguém, nem a sí próprio? Um menino que sabe o que significa as palavras amor, sinceridade, singeleza e leveza, mas apenas na teoria? Que se lançou contra as paredes das suas defesas e deixou fincarem no seu ser as facas da opinião social? Um adolescente que esqueceu o sentido da vida, de se entregar aos momentos, de permitir-se? Um quase-idoso sem a melódica sabedoria das experiências de vida? Que imagem as pessoas congelaram em sí do que é ser adulto, de e ter maturidade? Certamente não é a que pretendo seguir, não é o que vêem ao olhar para mim. Como Nietszche dizia, a maturidade está na seriedade pueril dos menores. Ela reside em encontrar de novo a seriedade que se tinha quando criança, ao brincar. A maior parte de nós, adultos, trancafiamos, através das cadeias da razão aprendida nas escolas, esta criança. Nos tornamos viciados em prazeres inalcançáveis, vítimas de desejos insaciáveis, e esquecemos os momentos efêmeros que quando criança tínhamos, que nos escancarava sorrisos palpáveis no rosto. Parece que perdemos a inocência que adoça a vida, fazendo-a tão bela. Alienamo-nos ao mundo das obrigações e a lazeres vendidos por preços exorbitantes. Isso é a raíz de tantas mazelas psicológicas que soterram o homem moderno. Mas quanto á você, não se entregue. Ainda podes encontrar a criança que habita em tí, aquela é que "pai do homem que és", ela está aí, indefectível, trancafiada entre os muros da conformidade.
Ainda podes fazer um vôo rasante às margens do teu inconsciente, onde a tua verdadeira identidade reside. Você tem as asas da imaginação, e o sopro da criatividade para isso. Se cair ao fazer isso, não se preocupe. Há um mar de possibilidades onde podes surfar sem medo, pois as ondas te levarão lá para onde tua certeza se esconde, junto com a liberdade de ser tudo que tens potencial para ser.
Toque as trombetas da emoção e derrube o muro intransponível da razão. Veja que por trás dele há alguém que sabe pintar o quadro da vida com cores vívidas e alegres, diferente desse retrato em preto-e-branco de um momento tão concreto quanto o muro que você acaba de derrubar. Desarme-se, deixe de brincar de "tiro ao alvo" sendo muitas vezes o "alvo" das suas próprias armas de altocrítica, de depreciação, de falsa moral. Você é apenas uma criança, completamente dependente dos braços do Pai para sair das agruras e decepções que te circunda. Um filho por adoção se adaptando às maravilhas de um novo lar, de um novo ser, de um novo "eu". Cadê as amarras que privavam você da sensação plena de liberdade? Se eu não me engano, elas acabam de cair ao chão. Acabas de chegar a um universo que não havias visitado antes, apenas avistado, dotado de mares, regiões abissais, maravilhosas montanhas, céu com vista plena, e milhares de criaturas não catalogadas. Na frente um letreiro com dizeres em neon: "Bem vindo ao seu coração".Entre e explore a vontade!


Narriman B.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Deve ser assim.

Deve ser assim...
Ter você
Está com você
Amar você...

Deve ser como ver meus muros ruirem
Liberdade plena...
E ter certeza de depois de uma noite escura...
virá uma manhã mais amena


Deve ser assim
Um duento de equilíbrio e propósito...
Tudo compartilhado
depósito esvasiado
É sorriso escorregando no rosto,

A maior das minhas aventuras
Um encanto com tudo que é proposto...
É viver acima das alturas...
Com nossas vidas e projetos justapostos

Deve ser assim...
Uma ação presenteada a cada momento.
Educação, postura, prazer e contentamento
E Eu fico suscetível de coerção...
deixando pegadas rumo ao meu coração...

Já é certo, te farei uma surpresa.
Te presentearei com flores de coesão e certeza.
Colherei do meu jardim a mais meiga esperteza...
Verei tua face enrubescer... Exímia beleza.

E enquanto tudo se encaminhar...
verás tú escrito no meu olhar?
Os sinais, os passos, as pistas enfim...
Detalhes de uma investigação, Você é perito, ou não?Mostre isso a mim!

Então usarei da minha altoridade nos mares da emoção
Mergulharei sem medo na intensidade desse mar
Te convencerei a vir também, a se jogar
Terei eu tal poder de persuasão?

Tendo a resposta ou não, eu penso enfim...
Estar com você
ter você
amar você
Deve ser assim...

Por: Narriman B.

Prenda a respiração e... se jogue!



Quando mergulhamos profundo em um oceano, corremos alguns perigos.
Há inicialmente toda a curiosidade de saber o que há embaixo de tão profundas águas, alí escondido e quase impenetrável. Se decidimos nos jogar então nessa expectativa, a cada braçada nos depararemos com coisas que impressionam, coisas nunca antes contempladas.
Mas no convés da emoção, não levamos em consideração o perigo que esse mergulho inesperado pode ocasionar. É necessário está devidamente preparado e equipado, mas apenas isto não basta,pois quanto mais profundo vamos, maior é a pressão exercida sob nossos pulmões, ou seja, mais ''sem fôlego'' ficamos...
Retornando a questão inicial, o quanto você está disposto a correr riscos? Na entrave de suas decisões, quão ganancioso és, a ponto de se lançar de olhos fechados em algo que para você ainda é oculto, mergulhar onde até agora você só arriscou molhar os pés?

O que se espera do inesperado? O que estará alí escondido, será que valerá à pena? Talvez guiados por essa dúvida, também possamos vir a perder o complemento da nossa alma, aquilo que os nossos olhos tão incoscientemente desejam ver, tocar, sentir, viver. "Perder o fôlego" é um sonho que tememos, um desejo que ocultamos, uma extravagância que contemos, uma emoção que guardamos pra depois. Mas e se não houver o depois? E se o depois for uma paisagem pela qual passamos e admirados olhamos pela janela, procurando captar através de uma fotografia, vista depois de um certo tempo, quando se percebe que aquilo é o que sempre se desejou ver, e que uma foto nada mais é do que uma lembrança congelada, e impossível de ser revivida. Talvez isso seja a essencia de se correr o risco: querer viver em plenitude aquele belo momento.

E talvez isso seja tão intenso e profundo, quanto ter todo o peso de um oceano sob seus frágeis pulmões. Mas o talvez é só um detalhe diante da imensidão que nos envolve quando ousamos mergulhar, nesse oceano profundo, desconhecido, e cheio de surpresas...

Narriman B.

No princípio era a dúvida

...

Mas,com o decorrer dos momentos eu a executo,transformo-a em mero tapete para descobertas..

O que há em mim floresce diferente do que pensam, e possui forma própria ,independente do que é vivenciado em outras instâncias e em outras formas de vida...O que há em mim pulsa, e se refaz na aura do dia que traz em seus raios a esperança de uma nova chance...

O medo, nossa defesa pessoal, abre seus braços na tentativa de envolver-me por completo, de separar o que já se faz indivisível: as certezas que percorrem minha alma. Mas seriam essas certezas as certas? Quem poderia afirmar isso comprovadamente? É necessário que eu me contradiga? Pois que seja, se isso me levar ao conhecimento interior pleno que eu tanto necessito, é um doce preço que eu pago feliz...

Há tanto a ser moldado, que ofereço a mim mesma como mediadora desse processo de transformação. Há o que ser abandonado, roupagens antigas que ainda deixam seus fiascos em nós. Pode ser que se livrar disso acarrete sofrimento, mas vale á pena seguir. Há em mim uma necessidade enorme de se vestir de mim , do meu ''eu'' mais oculto,mas a pergunta é: quem o compreenderia? Me torno agente dessa resposta: o Criador da minha alma, Ele conhece bem a matéria que Ele mesmo projetou. Ele me dá embasamento para esse novo momento , se faz luz em meio a escuridão em que eu havia vivido. Sim,ele e mais ninguém. Se estou envolta de lúgubres noites, Ele é a luz, a sua paz é aquela que permanece em nós, mesmo em meio a dor, a angústia, a perda de sí mesmo, a perda do outro....

Ele nos traz o perdão que nós negamos a nós mesmos. Os remorsos dentro desse parâmetro deixa de existir, pois Àquele que habita em nós não trabalha com remorso, mas com arrependimento. O profundo arrependimento e o auto-perdão nos dá a coragem necessária pra consertar o que está fora do lugar ,que muitas vezes foge a nossa compreensão. É inexprimível, mas de rara importância. Não somos o que queremos ser? Paciência! Podemos chegar a ser, capacidade não falta para preenchermos o que ainda é lacuna em nós. A vida com Cristo nos dá essa abertura,a segurança de ancorar em novos caminhos, descobrir novas fronteiras, transmutá-las. Isso nos leva a plenitude cristã.

Narriman B.