segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pare, olhe, respire-se!



Pare, simplesmente pare! Respire o ambiente a sua volta, e agora vá, devagarinho se notando em sua completude. Pare agora, não tenha tanta pressa, a pressa desanda o elemento surpresa, conquistada em cada empreitada, a caminho da gloriosa descoberta. Desça até as suas mãos. Sinta-as! Sim, constate o óbvio, você tem mãos. Não importa tanto o que ainda falta conquistar, não importa o que ainda terás, o simples fato de tê-las já te torna capaz. Tome consciência do pleno poder que tem a simples junção dessas mãos quando entra em contexto afinado com o clamor que sobe dos teus lábios como fragrância agradável às narinas de Deus. Mãos envoltas no ato de abraçar, de acariciar o coração, de levantar o caido, sarar as feridas do aflito. Perceba também as marcas, que mostram quão forte fostes, cada vez que te lançastes em busca, na luta da completude nunca alcançada, veja o quanto tais marcas lembra caminhos, paisagens por onde passasses, perfumes que exalasses, mãos que já tocastes. Perceba o quanto a felicidade está no simples traçar de caminhos, nas descobertas, nas vivências, que ela enfeita a trajetória, e não é o ponto final onde se deseja chegar. É infinitude, e está em cada traçar. Mas e agora, o que tuas mãos desejam pegar?
Aproveita o caminhar, e olha teus pés. Que bela proposta de continuidade eles possuem. Teus pés que já chutaram bolas ao gol, ou à tiros de meta. Pés que te levam as conquistas. Das vezes que correstes para os braços do Pai em sentido de retorno, entrega de filho que é, ora pródigo, ora prodígio! Nota a poeira que enfeita as lembranças do campo onde correstes, sentindo o chão resvalar em teus pés, enquanto o vento emaranhava os cabelos, plantando um modesto sorriso em teus lábios. Veja que verdadeira sinfonia. Onde deixarás tuas próximas pisadas?
Sim, nesse momento concentre-se em seus ouvidos, no balbuciar das simples palavras que ouves, num ruido, numa melodia suave, ouça, não apenas escute! Ouvido que foi tantas vezes receptáculo da sublime voz. Note os significantes, timbres marcantes, lembre a gargalhada embalando a piada. Lembre do gemido que acalenta o choro, baixinho, mas o suficiente para que o coração escute, e desperte os sentimentos. Seus ouvidos estarão atentos para qual momento?
O coração, leve palpitar ou aceleração. Pulsar que grita vida e deságua energia, propulsor dos sonhos, da força. Do respirar. Doutor do ato de amar. Centro da fé que contagia o corpo inteiro. Entrada e saída da vida. Que sentimentos desejas alimentar, ou nele plantar?
Ele te guará até o olhar, perfeito tradutor de tudo o que há por dentro. Criança inveterada, não sabe mentir. Conta todos os teus segredos num só pestanejar. Grito que não se pode calar. revela, pede, chora, ri, se decepciona, se encanta. Fotografa momentos a todo tempo. Tenta a quem se atenta. Voltados para frente, nos mantém alheios a nós mesmos. Mas nos mantém conectados com o mundo, com a natureza e formam a plena certeza das manifestações visíveis de Deus. Como não falar das maravilhas que vemos? E para onde dirigir o olhar?
Boca! Sim, essa que profere, profetiza! Que leva para fora o mundo de dentro, que revela as descobertas, das mãos, dos pés, dos ouvidos, do coração e dos olhos. Boca do degustar das belas palavras, e das belas canções. Do sussurrar responsável pelo arrepio, do assovio que nos faz passarinhos, passageiros, pequenininhos. Boca dos murmúrios noturnos, das mordaças invisíveis que se rompe num grito, ao romper da manhã, num sorriso de certeza que o que é belo virá, e não tardará. Do sorriso de esperteza! Do mordiscar do desejo do beijo negado a si mesmo. Do grito de medo. Tua boca e seus segredos. Instrumento de "IDE" de pregação, da confissão dos cristãos. Da profissão de fé. Que palavras pronunciar, então?
Percebes nesse passeio a harmonia? Viagem tantas vezes datadas para depois. Bilhete esquecido na gaveta do procrastinar, ou perdida no emaranhado de obrigações. No cientificismo. Nas certezas e vãs emoções. Na busca do 'ter' que banaliza as relações. E na entrave das decisões, as pessoas esquecem de ser, de sentir-se, de se perceber. Afastam pessoas, sufocam relacionamentos. Esquecem que o único método eficaz de conquista é o "ser". Então apenas seja, cultive a si mesmo, recicle e resignifique tudo o que és. Notes de onde vens, e para onde vais. Perceba a doçura que é viver.
E agora, que humano irás ser?!
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades." Camões.

.Narriman Buriti Basilio.

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