sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Num homem real se esconde uma criança,que deseja brincar...


Certo dia, passando costumeiramente por uma das ruas do meu bairro, num estado de contemplação plena, onde a retina dos olhos se abre para expectação de tudo o que acontece ao redor, que muitos não podem perceber, por estarem atentos aos seus próprios problemas e pertubações do dia a dia, me deparei com uma cena que me encantou. Não, não foi algo sobrenatural, que me desse a sensação de estar no paraíso, coberta com um céu de brigadeiro e criaturas exóticas por todos os lados. Na verdade é uma cena que enojaria aqueles ditos como abastados. Avistei uma criança, envolta com toda sua graciosa simplicidade, brincando na lama. A expressão que decorava a face daquela criança ecoa na minha mente até agora: sorriso pleno, tão grande que não cabendo no rosto, escorregava para o corpo todo numa verdadeira celebração daquilo que chamo de genuína felicidade. Nesse momento, me pus a pensar, não sem pesar, no quanto vamos nos corrompendo com o passar do tempo, enquanto nos tornamos inevitavelmente adultos.
Que bicho é esse tal de Adulto? Uma criança que esqueceu como emoldurar um sorriso no rosto e de ser congruente com suas próprias emoções? Que não tem perdão para dar a ninguém, nem a sí próprio? Um menino que sabe o que significa as palavras amor, sinceridade, singeleza e leveza, mas apenas na teoria? Que se lançou contra as paredes das suas defesas e deixou fincarem no seu ser as facas da opinião social? Um adolescente que esqueceu o sentido da vida, de se entregar aos momentos, de permitir-se? Um quase-idoso sem a melódica sabedoria das experiências de vida? Que imagem as pessoas congelaram em sí do que é ser adulto, de e ter maturidade? Certamente não é a que pretendo seguir, não é o que vêem ao olhar para mim. Como Nietszche dizia, a maturidade está na seriedade pueril dos menores. Ela reside em encontrar de novo a seriedade que se tinha quando criança, ao brincar. A maior parte de nós, adultos, trancafiamos, através das cadeias da razão aprendida nas escolas, esta criança. Nos tornamos viciados em prazeres inalcançáveis, vítimas de desejos insaciáveis, e esquecemos os momentos efêmeros que quando criança tínhamos, que nos escancarava sorrisos palpáveis no rosto. Parece que perdemos a inocência que adoça a vida, fazendo-a tão bela. Alienamo-nos ao mundo das obrigações e a lazeres vendidos por preços exorbitantes. Isso é a raíz de tantas mazelas psicológicas que soterram o homem moderno. Mas quanto á você, não se entregue. Ainda podes encontrar a criança que habita em tí, aquela é que "pai do homem que és", ela está aí, indefectível, trancafiada entre os muros da conformidade.
Ainda podes fazer um vôo rasante às margens do teu inconsciente, onde a tua verdadeira identidade reside. Você tem as asas da imaginação, e o sopro da criatividade para isso. Se cair ao fazer isso, não se preocupe. Há um mar de possibilidades onde podes surfar sem medo, pois as ondas te levarão lá para onde tua certeza se esconde, junto com a liberdade de ser tudo que tens potencial para ser.
Toque as trombetas da emoção e derrube o muro intransponível da razão. Veja que por trás dele há alguém que sabe pintar o quadro da vida com cores vívidas e alegres, diferente desse retrato em preto-e-branco de um momento tão concreto quanto o muro que você acaba de derrubar. Desarme-se, deixe de brincar de "tiro ao alvo" sendo muitas vezes o "alvo" das suas próprias armas de altocrítica, de depreciação, de falsa moral. Você é apenas uma criança, completamente dependente dos braços do Pai para sair das agruras e decepções que te circunda. Um filho por adoção se adaptando às maravilhas de um novo lar, de um novo ser, de um novo "eu". Cadê as amarras que privavam você da sensação plena de liberdade? Se eu não me engano, elas acabam de cair ao chão. Acabas de chegar a um universo que não havias visitado antes, apenas avistado, dotado de mares, regiões abissais, maravilhosas montanhas, céu com vista plena, e milhares de criaturas não catalogadas. Na frente um letreiro com dizeres em neon: "Bem vindo ao seu coração".Entre e explore a vontade!


Narriman B.

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