quarta-feira, 22 de setembro de 2010

De onírica certeza.

Momento de agonia insólita, pensamentos que não sei que época datam, vão invadindo, tomando seus acentos e o espetáculo dá sinais iminentes de que vai começar...
A cortina sobe devagar, as luzes se sobressaem dissipando as trevas que antes escondiam o que estava prestes a acontecer... Trepidação, tudo geme, assisto incauta todo investimento para manter meu coração quieto se esvair, num piscar de olhos. Despeço-me da minha paz, para que a realidade faça a sua representação [paradoxo ou não, é o que acontece] Tão perfeita, e ao mesmo tempo aterradora. Eu vejo olhos, direcionados a outros olhos. Não são meus. Os meus se apertam em contínuas lágrimas salgadas, que fazem um contorno até meu queixo, e tocam em meu sinal, dando sinal do que está por vir. Vejo palavras perfeitamente arquitetadas com o intuito de tocar, de acariciar um coração que não é o meu, porque o meu se dizima, se autodestrói, e nesse momento posso sentir ir embora a confiança q eu tinha. Vejo tanta gente ao redor, pessoas que sorriam falsamente pra mim, agora aplaudem, não ao 'espetaculo-sonho', mas a minha aparente derrota, com ar de que conseguiram. Daí eu vejo mãos, Estas se entrelaçam, depois que os dedos passam pelos traços da palma, como forma de dizer: 'caminhos foram traçados, agora me pertences’. Isto me traz lembranças, que estavam ha muito tempo num fundo de um baú trancado, cuja chave eu não tenho acesso. Eu percebo o quanto minhas mãos foram fortes um dia, o quanto elas lutaram, o quanto elas se debruçaram em criatividade, o quanto elas 'amaram’. Esta story line estava ficando insuportável demais,quando as cortinas novamente se abrem,anunciando o ultimo ato. Nesse instante olho atenta para a menina, cabelos ao vento, sorriso largo como quem posa pra foto, uma pureza no olhar, gestos tão espontâneos que vão de engraçados a encantadores, assim como quem não quer nada. Levantamos uma mão ao mesmo tempo, e axo estranho, começo a perceber que seus movimentos agora, estão em perfeita sintonia com os meus, Percebo que sou eu que passo a mão no rosto dele de forma singular...

O faço levantar, o envolvo com um beijo, depois viro o rosto, rubro de vergonha, aquele risinho de lado, que diz tanto, e ao mesmo tempo cala, está lá, tão perceptível. Explodimos em gargalhadas, aparentemente a felicidade transborda. Neste momento percebo que as pessoas sumiram, restamos apenas eu e o espetáculo mais onírico de toda minha vida. Tento correr, mas não posso, estou presa pela cena, e esta agora me chama, convida-me a tomar o papel principal._'NÃO ME ENCAIXO NO PERSONAGEM' grito eu, -NÃO TENHO O BASTANTE PARA ELE', digo baixinho.O medo me toma,as marcas vêem a tona com toda veemência, a menina do palco olha pra mim, olhos agora tristes, e diz: Você é ela, somos a mesma pessoa, em fases diferentes, apenas as mágoas nos diferem, pois não há lugar para elas em mim. _'EU NÃO CONSIGO' digo, numa voz q me assusta de tão embargada. 'ELE TAMBÉM NÃO' sentencio, compreendendo tudo. Ele segura as mãos dela com força, rosto agora confuso, pergunta-lhe algo, ela sacode a cabeça, a minha vai junto no movimento, e agora eu percebo o quanto ela doi..

Derrepente é como se eu tivesse acesso aos pensamentos dele, como por transferência numa telepatia, ou como naquele filme ' e se eu fosse você'. Há milhares de pensamentos desconexos, rápidos, inteligentes, divertidos, todos a seu tempo. Quando olho pra frente, sob a ótica dele vejo milhares de rostos que se sobrepõem, rostos que me são familiares. Lindas formas, formas de falar diversas... Em sua mente agora,ondas cerebrais em forma de pensamento traçam estratégias, frases perfeitas, linhas de pensamentos que fogem do convencional. Ou não. Há também rituais, manias e imperfeições. Derrepente é como se eu olhasse no espelho, é minha imagem que se forma na profusão dos rostos, só que está diferente. Sinto o seu coração palpitar leve e milhares de pensamentos surgirem com a força de uma represa. Ele solta a mão depressa. Sua mente procura defeitos, mágoas surgem, como mecanismo para defender de ver um possível filme sendo reprisado. Daí acontece a coisa mais incrível.

Aquela imagem minha, que eu não reconheço, não concebo como minha, de tão perfeita que parece ser, ergue-se devagar. Tudo ao redor fica mais lento, embaçado, fora de perspectiva. A mão 'dela' completa seu trajeto, toca-lhe o coração.' NÃO SE PREOCUPE' diz com segurança.'FAREI CESSAR SEU MEDO'...'Sabe a mágoa? Ela nunca existiu, é apenas uma falsa memória. Eu também cheguei a acreditar nela, também me entreguei a insegurança, a hostilidade. Mas ela não consumiu a minha fé, a certeza de que Deus quem fez surgir tudo que está disfarçadamente dentro de nós. 'APENAS ME ABRAÇE'.
Neste momento, lágrimas que antes eram de tristeza, se transformaram em alegria. Ele oscila, mas daqui de dentro posso ver, a imagem se transforma uma vez mais. O rosto que está diante dele parece refletir. Retomo meu lugar, envolta no mais perfeito abraço. As luzes se apagam num cenário de flores invertidas. As cortinas fecham.
Mas o espetáculo que continua por trás dela é ainda mais impressionante.

História fictícia, por Narriman Buriti Basilio.

Um comentário:

  1. Show...vc tem uma capacidade de descrição incrível. Parabéns...sou seu leitor!

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